quarta-feira, 30 de março de 2016

A ÉPOCA DE OURO DAS LIVRARIAS

Houve uma época em que as livrarias tiveram uma presença muito importante na divulgação da astrologia. Havia uma mobilização em torno delas, que eram o local de chegada das novidades da época.

As décadas 60, 70 , 80 e 90 refletiam os efeitos do que ocorrera nos anos 60 quando tivemos a conjunção de Plutão e Urano no signo de Virgem. A sociedade mundo tinha sido abalada por conflitos e crises que mudariam a imagem de tudo e deixariam um rastro de grandes transformações.

Nesse contexto havia a promessa de um mundo novo. Havia aberturas em diversas áreas da cultura, da arte e do pensamento. As livrarias eram a porta de entrada para a disseminação dos efeitos dos acontecimentos citados. Livros, jornais e revistas locais e internacionais assim como encontros e palestras faziam circular as ideias e as artes desse mundo novo.

O bordão desse novo mundo trazia pessoas aos eventos de astrologia nesses espaços junto ao público. Não havia ainda a concorrência de outras novidades na área divinatória e esotérica que chegariam um pouco depois. Era um mundo sem internet, sem a imediatez das comunicações que começou a se popularizar um pouco depois de forma mais ampla.

Algumas das livrarias tiveram uma função divulgadora da astrologia. Entre elas podemos citar as livrarias Spyro, Horus, Zipak, Triom e Arjuna que funcionariam como ponto de encontro para o público e local para profissionais mobilizarem seu conhecimento. Formavam um ambiente para trocas que hoje pode ter seu paralelo nos grupos que se formam nas redes virtuais. Algumas delas fecharam, outras ainda se mantêm em funcionamento, mas foram perdendo tal função. Hoje observamos que elas tentam manter a função de espaço de convivência e trocas em uma diversificação de assuntos, característica própria a um mundo conectado e que atende aos apelos de um público exigente que tem interesses múltiplos.

A chegada da internet trouxe mudanças incontornáveis. Outros aspectos podem ter interferido nessas mudanças e na perda de espaço da astrologia nas livrarias. A abertura de outros empreendimentos comerciais como as lojas grandes como a Fnac ou a presença de portais de comércio como a Amazon são movimentos irreversíveis.

Vale a pena lembrarmos de como foi essa fase das livrarias. Foi um tempo especial, foi uma época de ouro.

A Spyro foi uma dessas livrarias que ampliaram o contato com seu público e propiciaram espaço de trocas de conhecimento. Talvez tenha sido a que mais expandiu informações e conceitos astrológicos.




Spiro, uma livraria especial

Ela foi fundada em outubro de 1991 e fechou as portas em agosto de 2005. A intenção da livraria era espalhar ideias novas tais como a ampliação da consciência e o conceito do autoconhecimento e da espiritualidade.

A primeira locação da livraria era uma casa pequena, um sobrado na avenida Lorena que combinava com os objetivos a ela destinados. Ampliou o espaço para a casa ao lado, depois voltou ao tamanho inicial, tendo sido sempre um convite para encontros.

O grupo fundador reunia pessoas com experiências pessoais interessantes. Desenhava-se a “experiência Spiro”. E havia também uma frase, na verdade um conceito, que era distribuído pelos espaços e frequentadores: Livros de conhecimento do homem e do mundo. Havia conceitos e intenções que contribuiriam para materializar a forma como a livraria funcionaria.

Várias pessoas passaram pela organização societária da empresa. Cada uma deixou sua marca, suas preferências o que pode ter gerado o perfil flexível e rico que a livraria ganhou. As pessoas mais frequentes foram Patrícia Aguirre, Marinos Van Der Molen e Lili Guimarães.

Lili acrescentou sua marca pessoal no projeto de divulgação por meio de folhetos enviados mensalmente por correio. Eram desenvolvidos em papel reciclado com bom gosto e variadas seções. Começava com uma apresentação do mês em texto sugestivo, linguagem informal e seguia com indicações de leituras, eventos do mês (cursos e palestras) e indicação de CDs. A seção “Amigos da Spiro” antecipava uma política de fidelização de cliente e com simpatia divulgava eventos e trabalhos.

Entre as inovações havia a importação de livros e CDs de música como a étnica e a new age. A livraria se preocuparia em manter as seções atualizadas de acordo com o que havia de melhor em catálogos estrangeiros.  

No texto de maio de 1999, o folheto diz: “Acredito nesta Spiro: acolhedora, rica, curiosa e inquieta, uma Spiro cheia de alegria e boa vontade para receber a vida como ela se oferece e absolutamente determinada a jogar um olhar na beleza , na harmonia, na evolução do nosso dia a dia, do nosso estilo de vida, enfim”. Era um propósito ousado e sedutor. Dentro dessa filosofia, além dos livros, o cliente iria para trocar ideias, tomar um café o que naquela época não era comum, ler uma revista ou descansar depois do bate-pernas pela vizinhança.

Lucely Kerikian , que exerceu várias funções, foi a profissional que participou o tempo todo da vida da livraria desde seu momento inicial até o fechamento. Podemos dizer que ela era a representação física da Spyro.

Vários assuntos tinham seu espaço garantido nos eventos e prateleiras, entre eles a contação de histórias (com Regina Machado) e a mitologia (com Viktor Sallis). Havia também cabala, pathwork, meditação, artesanato, curso em milagres e muita astrologia. Mas eu posso supor que a astrologia foi o assunto que mais mobilizou a livraria pela quantidade de eventos realizados e pelo público expressivo que acomodava.

A organização desses eventos relacionados durante muito tempo esteve sob a responsabilidade de Ana Cristina Abbade. Eles ocorriam com regularidade e variedade: lançamento de livros, mesas-redonda, palestras. Chegaram a ganhar espaço na mídia com César Giobbi no jornal O Estado de São Paulo.

Na astrologia, especialmente de 1996 a 2002, aconteceram comemorações de equinócios (com leitura de planetas em mapas), mesas redondas com temas da época tais como a questão ética e religiosa (a clonagem de Dolly), o grande eclipse de 1999 e o encontro planetário do ano 2000. Houve entrevistas, lançamentos de livros e cursos rápidos. Em junho de 2000, houve uma noite de autógrafos com Noel Tyl, astrólogo americano convidado.

São estes alguns dos astrólogos que participaram dos eventos: Ademar Eugênio de Mello Amâncio Friaça, Ana Cristina Abbade, Ana González, Bárbara Abramo, Betoh Simonsen, Carlos Fini, Ciça Bueno, Cláudia Furtado, Douglas Marnei, Luiza Olivetto, Lydia Vainer, Márcia Mattos, Maria Alice Camargo, Maria Tereza Nabholz, Marylou Simonsen, Maurício Bernis, Mônica Murgel, Oscar Quiroga, Paula Falcão, Robson Papaleo, Rose Villanova, Sandra Perin, Sérgio Frug, Valdenir Benedetti.

Cada época guarda suas características. É importante resgatar o papel imprescindível da livraria Spiro para a astrologia em São Paulo. 



Folheto de divulgação enviado pelo correio e dobrado em três.



Divulgação de evento astrológico, organizado por Valdenir Benedetti.



Um folheto com mensagem - destaque para o cuidado do material feito pela livraria.







Um comentário:

  1. Pergunta A: O que seria dos seres humanos sem os livros, revistas e jornais para ampliar o conhecimento e a cultura dos brasileiros. Pergunta B: O que será dos seres humanos sem os livros, revistas e jornais para ampliar o pouco de conhecimento e cultura que ainda restam aos brasileiros, mas que a Internet está "deletando" esse pouco de conhecimento e cultura que ainda restam aos brasileiros.

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