quarta-feira, 1 de junho de 2016

PROGRAMA PEGASUS, um pouco mais do que tecnologia

Autoria: Ana Maria Mendez González

Hoje em dia ser programador de software é opção relativamente comum. É área profissional em ascensão. Escolha adequada. Mas, há cerca de quarenta anos atrás, o que explicaria essa opção? Fui conversar com Paulo de Tarso Ferreira, o criador do programa PEGASUS, bastante utilizado pelos astrólogos brasileiros. A seguir, eis como surgiu este programa para cálculos astrológicos, os passos iniciais de elaboração e seu amadurecimento como produto final.

O INÍCIO

A intenção era outra, mas ele acabou chegando à área da programação de computador. Paulo de Tarso Ferreira tinha escolhido, originalmente, Engenharia Eletrônica como curso superior. Enquanto completava o colégio e fazia cursinho, teve contato com um livro sobre Freud e achou que Psicologia era o que realmente queria fazer. Começou a carreira acadêmica pela Psicologia em 1972 e, com interrupções, também passou pelo Jornalismo e pela Física. O Latim teve lugar importante em suas horas de estudo porque queria ler os tratados de alquimia no original.

A astrologia chegou por herança paterna. Seu pai estudava astrologia na escola esotérica Rosa Cruz e fez seu mapa logo no nascimento. O conhecimento astrológico começou a se formar por volta de 1978 com o lançamento do livro "O grande livro de Astrologia" , de Júlia e Derek Parker (do Círculo do Livro), cuja pesquisa foi feita em grupo de amigos, colegas da faculdade e, principalmente, com o Amauri Magna e sua irmã, Marisilda Magagna. Na procura por uma informação mais consistente, o livro mais importante foi Astrologia Racional de Adolfo Weiss, em edição argentina pela Editorial Kier.

De 1979 até o começo de 1980 chegou a fazer leituras de mapas natais aos colegas da PUC como "diversão". Nesse período, procurando formas de facilitar o cálculo, teve contato com a calculadora Texas TI-59. Como não sabia nada de programação, quem criou as primeiras rotinas foi o Amauri Magagna.

ENCONTROS NOTÁVEIS

Um encontro (casual e impulsivo) acelerou esse contato com os programas de Astrologia. Visitando o Instituto Paulista de Astrologia, junto com o Amauri Magagna, Paulo "invadiu" o escritório do Antônio Facciollo, descobrindo que ele também tinha interesse em um programa de cálculos astrológicos e já tinha, inclusive tentado fazer isso, no passado. As necessidades comuns, as conversas e o vínculo de uma amizade fez que todos se esforçassem na direção desse objetivo. Foi uma convivência quase diária por mais de uma década.

Todas as informações sobre cálculo eram passadas ao Amauri Magnana, pois ele era o engenheiro e grande programador. As dificuldades eram enormes tanto na área de conteúdos astrológicos como na linguagem técnica. Houve tentativas para encontrar informações, como alguns sistemas de casas, por exemplo. Esse era o trabalho: descobrir a informação e transformá-la em programa. Amauri tinha essa condição técnica e especial vocação.

A partir de 1980 passa a trabalhar como Psicólogo em empresa, o que dificulta um pouco o envolvimento na Astrologia. Lá pela metade dos anos 80 se dá, no Brasil, o início da comercialização dos computadores pessoais. Aquele espírito técnico que tinha influenciado na escolha por Engenharia se manifestou novamente.

Entre os anos de 1984 e 85, trabalhando e morando em São José dos Campos compra seu primeiro computador (um TK-2000, Apple) e passa a dedicar o tempo livre para aprender técnicas e linguagem de programação. Isso acontece (a partir do DOS do Apple), esmiuçando os programas da Matrix, que era a grande produtora de softwares de astrologia da época. O aprendizado se deu por "engenharia reversa", lendo as rotinas dos softwares da Matrix para entender a função de cada uma e traduzindo os termos para português. Eram as primeiras tentativas de um criar programa.

Em 1985 deixa de trabalhar diretamente em empresas e volta a São Paulo, tornando-se Consultor de Recursos Humanos, o que garantiu maior flexibilidade nos horários de trabalho e permitiu dedicar um tempo maior à Astrologia e à programação. Elabora outro programa com novos recursos, usando um recurso do Apple IIe de mostrar em tela 80 colunas ao invés de apenas 40, característica dos primeiros Apple. Distribui esse novo produto, nomeado Astro II, aos amigos, que insistiram na comercialização, que acontece precariamente durante alguns meses com o nome rebatizado para Pegasus.

Por que esse nome? A palavra é proparoxítona e esse tipo de acentuação o agrada. Proparoxítonas são palavras fortes. Por outro lado, a palavra Vega, nome do outro programa para astrologia, é apenas uma estrela. Pegasus é constelação. Isso virou brincadeira, querela amigável com o companheiro e criador do Vega, Amauri Magnana.

Para elaborar o Pegasus, o Paulo desejou um critério de facilidade de acesso aos recursos da máquina. Ele queria uma simplificação no seu uso. E também não abriu mão de certa beleza. Portanto, apesar de ser um produto tecnológico, ele foi acrescentado de certos aspectos estéticos e psicológicos. Como ele mesmo declara, sua formação é como Psicólogo e não como Engenheiro. Portanto o Pegasus deveria ser um programa simpático e acolhedor, além de apresentar cálculos corretos e precisos.

Entre 1987 e 1988 a aceitação do programa Pegasus é grande. Até então as opções do Pegasus refletiam mais a forma de trabalhar do seu criador e das pessoas que o cercavam diretamente. O foco inicial eram os alunos do IPA (Instituto Paulista de Astrologia) e, pela parceria, os associados da ABA (Associação Brasileira de Astrologia) tinham desconto nos dois programas Vega e Pegasus.

Em 09 de maio de 1988 é lançada a segunda versão do Pegasus, que na verdade é a primeira versão totalmente comercial, incluindo opções para atender um público maior e que usava técnicas e sistemas diferentes. Nessa época o Amauri e o Paulo muitas vezes saíam juntos com o Carlinhos Fini (que foi fundamental no marketing), para apresentar seus programas, através de contatos com Alexandre Fücher, da Escola Regulus, Maurice Jacoel, Valdenir Benedetti, além de Antônio Facciollo, que já era parceiro nessa conquista.

Essa tecnologia modificava imensamente o dia-a-dia do profissional da astrologia. O sucesso foi rápido. Anos depois, houve uma tentativa de criar um único produto unindo os três programadores que existiam naquela época no Brasil: o Floriano Possamai, (Canopus), Amauri Magnana(Vega) e Paulo de Tarso (Pegasus). Encontros aconteceram para troca de ideias e identificação de aspectos comuns para incorporar, além dos cálculos comuns, as características particulares de cada software, bem como a fácil conversão de arquivos entre os três. Tal projeto não vingou.

Nos anos 1993 e 1994 o Paulo de Tarso passou vários meses no Rio de Janeiro, mantendo contatos com o Otávio Azevedo, responsável pelo Astrotiming e com a Maria Eugênia Capparelli, da escola Astrociência, na época os principais centros cariocas de Astrologia. Desses encontros, algumas novas opções foram acrescentadas ao Pegasus, já que a astrologia no Rio tinha seguido um desenvolvimento diferente do que aconteceu em São Paulo.

O programa foi passando por modificações, tornando-se mais completas suas competências e mais profissional sua apresentação, agora acondicionado em caixa adequada além de contar com manual impresso. Esse é um grande momento do programa, amadurecido após grandes dificuldades e muito trabalho.

A partir desse momento, são necessárias ainda atualizações temporárias, porque os cálculos astrológicos estão imersos no mundo da tecnologia, em que as mudanças não param de avançar.

Por exemplo, as telas em preto e branco, ganham cor, e surgem os desenhos coloridos, tela cada vez maiores e surgimento de sistemas operacionais que promovem a interação maior com o usuário. Com o aparecimento do programa Windows , a leitura passa a ser diferente, com botões que funcionam de forma nova exigindo uma visão de programação completamente diferente. Para se ter uma ideia, nos antigos programas em DOS, o computador esperava calmamente o usuário seguir uma sequência pré-programada de instruções. No Windows é possível fazer várias coisas simultaneamente o que inclui apertar vários botões ou editar vários campos ao mesmo tempo. Muitas adaptações foram necessárias.

Some-se a isso o ressurgimento de técnicas astrológicas de extrema complexidade para o cálculo manual que ocupam uma fração de segundo no computador. O melhor exemplo disso é o cálculo das direções primárias, realizadas apenas para reis, pela extrema dificuldade do cálculo manual. A complexidade de interações de cálculos em sistemas diferentes (um sistema para cada planeta) forçava um trabalho de semanas para conclusão do cálculo. Apesar da facilidade do cálculo no computador é uma técnica que até hoje amedronta os estudiosos pela ideia de "dificuldade" que ela carrega e ainda é pouco usada pelos profissionais.

É muito comum o pedido (por vezes bastante insistente) para que seja incluída a interpretação do mapa natal junto aos cálculos matemáticos como já acontece com muitos softwares, como o Vega brasileiro e o SolarFire americano. Embora reconheça a vantagem comercial de ter interpretação no Pegasus, o Paulo resiste muito a isso, que considera "um tiro no pé". Se os astrólogos começam a distribuir interpretações impressas de maneira simples e mais barata isso vai acabar se tornando o padrão e tornando difícil o trabalho do Astrólogo.





DEPOIS DO PROGRAMA DE COMPUTADOR, O QUÊ?

Por que e para quê a computação? O que aconteceu com o profissional da astrologia com o aparecimento da tecnologia? Que mudanças ocorreram em sua atuação profissional?

No início, era uma aberração ter um aparato tecnológico para fazer mapa. Astrólogos e clientes concordavam que não era adequado utilizar a máquina. Cada um tinha seus argumentos, por vezes não muito conscientes de sua significação.

Os astrólogos se negavam mesmo a usar computador já que seu trabalho seria artesanal e respeitado quase como uma atividade especial demais para ser maculada por uma máquina. Ainda hoje existem profissionais que consideram a Astrologia uma arte, exercida a partir de uma leitura intuitiva do mapa natal.

Por sua vez, para o cliente, uma máquina poderia tirar do astrólogo uma aura de misticismo que naquela ainda era muito comum ao exercício da profissão: ele seria uma espécie de guru. Não podemos ignorar que a imagem do astrólogo se misturou durante muito tempo com essa noção de guru, aquele que -entre outras coisas- detém o grande segredo. Ainda hoje podemos encontrar essa imagem junto ao profissional da astrologia .

 Podemos citar também a dependência que tal postura ajuda a criar entre cliente e profissional. Há muitas maneiras de lidar com o poder que um segredo pode deter. Se o profissional detém o segredo, tem também o poder e o cliente poder auferir das qualidades que ele representa. Talvez essa postura, ainda se mantenha de certa forma, mas tem sido inexorável o sucesso dos programas como ajuda essencial no exercício da profissão. Assim como a mudança na imagem do profissional da astrologia.

Pouco a pouco a eficiência e a rapidez venceram e todos concordam que é racional e lógico fazer uso da tecnologia para trazer eficiência nos cálculos. Os softwares facilitaram a pesquisa. Hoje em dia é impossível negá-la.

Novos tempos, novo profissional da astrologia.



PS: Agradeço a parceria inestimável de Paulo de Tarso Ferreira não só na fase de coleta de informações como também na produção deste texto, assessorando pacientemente na terminologia técnica e em outros dados.

3 comentários:

  1. Ana Maria, vc já testou o Pegasus? Estou procurando um programa brasileiro. Detesto os programas americanos.

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  2. Sim, tenho os dois e gosto deles. Espero que vc já etnha rsolvido o problema. Desculpe-me pela falta de resposta.

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  3. Muito bacana conhecer a história por trás desse software! :) Uma pena a instalação para Mac ainda ser tão trabalhosa mesmo com tantos anos de mercado. :(

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