quarta-feira, 6 de julho de 2016

DE ENGENHARIA E DE ASTROLOGIA

Autoria: Ana Maria Mendez González

Por que motivo o nome Vega?
“Porque é curto e nomeia uma estrela.
 Simpatizei.”

Não foi fácil conseguir a entrevista com Amauri Magagna, o criador do programa Vega. Foram necessárias algumas tentativas pelo facebook e o pedido de intermediação de amigos comuns.

Valeu a espera. Pelo telefone, o tom amigável sugeriu o encontro logo na semana seguinte em um café na Avenida Paulista. Ele chegou à vontade e querendo falar.

o início

A escolha acadêmica seguiu uma vocação que seria amplamente desenvolvida mais tarde. Só poderia ser aquela: a engenharia eletrônica. Estava no segundo ano do curso na Faculdade Politécnica da USP, nos idos de 1978, quando se interessou pela astrologia, através de sua irmã Marisilda que estudava psicologia na  PUC. Com ela, um colega de curso, Paulo de Tarso Ferreira e outros, entrou no mundo da astrologia. O primeiro livro a ser lido foi "O grande livro de Astrologia" , de Júlia e Derek Parker (do Círculo do Livro).. Em casa de praia, o grupo lia e discutia com interesse. Foram muitas conversas com os amigos.

E o estudo foi ampliado mais tarde, em 1979 quando estudou a Astrologia Racional, cujo conteúdo técnico posteriormente acabou servindo de base para a programação do Vega.

Amauri se aplicou muito na teoria astrológica para o exame da ABA (Associação Brasileira de Astrologia) sob a orientação de Antônio Facciollo. No meio de seu relato, ele recorda que as Direções Primárias do programa Vega foram desenvolvidas a partir da teoria da Astrologia Racional estudada com a professora Vera Facciollo. Era dela também o acompanhamento em temas avançados como a astrometereologia, ingressos e outros.

Desde 1978, ele já tinha o básico de conhecimento de programação e entendia de máquinas de cálculos. A primeira foi a TEXAS TI57 que nessa época ainda não tinha memória nem utilizava cartão. É fácil imaginar que logo o engenheiro quisesse os cálculos astrológicos.

Aos poucos, ampliou seu conhecimento de programação e cálculos matemáticos. Juntou a esse repertório técnico um curso básico de Astronomia na USP em 1980, onde conseguiu as fórmulas astronômicas para o cálculo das órbitas dos planetas. A formatura de engenharia veio em 1981.

Durante o dia, era engenheiro. A astrologia ocupava suas noites e madrugadas. Um hobby muito especial.

Em 1988 sai da empresa em que trabalhava como engenheiro e vive um ano sabático para fazer programas de astrologia. Nunca mais voltou para empresa. Nem para a engenharia.

O que era hobby, virou escolha de vida.

O programa Vega

Encontros interessantes foram possibilitando trocas de conhecimento e de estímulo. Amauri e Paulo de Tarso conheceram Amâncio Friaça em um grupo de astrologia coordenado pelo Wanderley Vernili (naquela época talvez ainda um estudante de Física na USP) na Igreja Santa Justina. Também estiveram no Instituto Delphos, a convite do astrólogo Milton Maciel a quem apresentaram os programas de cálculos para divulgação a grupos.

Esse tipo de contatos fizeram que as primeiras cópias do programa do Matrix que já contavam com os cálculos mais precisos de Michael Erlewine fossem veiculadas. Antonio Facciollo passou tal programa para Amauri e Paulo de Tarso ainda em fita cassete já que não existiam ainda disquetes. Desse programa, eles possuíam o livro original e cópias com cálculos matemáticos. Os cálculos dos planetas e das equações astronômicas (elipses etc) não eram precisas e esse programa já apresentava a correção necessária, contendo erro de poucos minutos de arco o que para a época era muito bom. Mesmo com esses avanços para a época, o Matrix ainda tinha uma linguagem limitada de computação e programação (linguagem Basic). ).

Naquela época não se esperava que os computadores substituiriam os pesados livros de efemérides. Os limites de cálculo das rotinas iam de 1800 a 2100 e, evidentemente, a maior precisão era no século 20. Os cálculos em um Apple levavam um minuto, o que hoje sabemos ser muito tempo para um cálculo. Essa lentidão não causava estranheza naquela época.

Também foi Antonio Facciollo quem forneceu as primeiras informações para a criação das rotinas da linguagem tecnológica. Paulo de Tarso se recorda de um livro sobre Plutão que foi entregue por Facciollo a Amauri que, brilhantemente, adaptou os cálculos.

Podendo acessar linguagens mais avançadas, em julho de 1987 surge o primeiro Vega que foi escrito começando do zero com outra linguagem (Pascal), para o PC e simultaneamente para o Apple II.

A linguagem Pascal ajudou nesse trabalho, pois ela permitia a programação estruturada voltada a objetos, facilitando o desenvolvimento por meio de blocos funcionais. Isto acelerou muito o desenvolvimento do programa. Essa primeira versão apresentava o mapa natal, progressões e trânsitos.

Os programas da Matrix eram mais voltados ao público norte-americano, e usavam métodos de progressão diferentes dos usados por aqui (arco solar, arco de Naibod, etc.). O programa Vega introduziu as progressões secundárias e sinódicas.

DO COMPUTADOR PARA A NUVEM

Antonio Facciollo teve papel importante nesta história. De certa forma foi ele que tornou possível esse capítulo de programas de computação para a astrologia.

Naquela época havia um programa de rádio comandado pela astróloga Xênia Bier, conhecida e com grande audiência de público. Nesse programa quase como uma missão, ele divulgava a Astrologia científica e desejava que a imagem da astrologia ganhasse um cunho de seriedade e profissionalismo. Era com essa intenção que ele dirigia o Instituto Paulista de Astrologia, escola fundada em 1965. Foi assim também que conduziu a instituição ABA (Associação Brasileira de Astrologia).

Amauri e Paulo de Tarso, que estavam em contato inicial com a astrologia, foram visitar Antonio Facciollo, que entendeu a curiosidade dos jovens, tendo assim abraçado a causa de lhes dar o conhecimento teórico de astrologia que eles desejavam. Na verdade, ele também desejava um programa para fazer os cálculos de mapa astrológico. Foi um encontro de necessidades mútuas.

Era o que precisava acontecer para que o setor de tecnologia para astrologia se desenvolvesse, pois era uma época em que programas e computadores eram raros e caros.  E além disso eram lerdos. Havia cálculos que demandavam cerca de vinte minutos para sua conclusão porque os programas envolviam um número enorme de cálculos. Hoje isto é feito quase que instantaneamente.

Conforme Amauri e Paulo de Tarso progrediam na programação, trocavam ideias entre si, e compartilhavam disquetes com os avanços feitos.

A comercialização do programa Vega se inicia no Instituto Paulista de Astrologia, com Antonio Facciollo, e se expande para a escola Regulus, com a parceria de Alexandre Fücher. Lucely Kerikian seria a parceira na livraria Spiro, importante ponto de divulgação e de venda.

E o programa se desenvolve à medida que a tecnologia avança. Na época do PC modificações são necessárias para adaptação do programa aos novos computadores e sistemas operacionais.

Depois de anos da primeira versão do Vega, chegou o Vega Plus que representou um grande crescimento com a inclusão de interpretação, um pedido insistente das pessoas. Respondida essa demanda do público, ocorreu um estouro de vendas. Essa facilitação servia de grande ajuda ao estudante de astrologia.

Em 1997, foi então criada a Viraj, uma empresa de informática para comercializar os programas. A sócia Léa Bastos cuidava da parte comercial, enquanto ele desenvolvia as novas versões e montava o produto (gravava os discos do programa, montava a caixa e o manual).

Posteriormente a empresa se associou à ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software), e houve a participação em várias FENASOFT (feira de informática no Anhembi) no stand da ABES. Em uma delas, foi feito o convite a Floriano Possamai (criador do Canopus) para participar junto a eles.

Em 1997 foi lançada a versão 7.0, já compatível com o Windows 95, mesmo ainda sendo um programa desenvolvido para o DOS. Nessa mesma época começa a se popularizar o PC, e o número de usuários cresce exponencialmente.

Nesse momento de crescimento da divulgação e venda, não foi possível continuar com o registro dos clientes como acontecera no início da comercialização do produto. Quando o número de clientes chegou a mais de 5000, isso se tornou difícil de administrar.

Em 2000, a empresa Sadhana Informática é criada para cuidar exclusivamente dos programas, e a Viraj se transformou em comércio de produtos esotéricos variados (tarôs, radiestesia, runas, etc., incluindo o programa Vega). O regime tributário dos dois tipos de empresa é bem diferente, então era mais vantajoso fazer esta cisão. Então, de 2000 para cá, o programa Vega passou a ser da Sadhana e comercializado pela Viraj.

Por volta de 2000, começam a aparecer pessoas procurando programas de astrologia para Mac e Linux. Para suprir esta demanda, e também para eliminar de vez a necessidade de atualizações constantes e versões diferentes do programa, em 2003 foi lançado o Vega Plus Online.

Por rodar exclusivamente na internet, usando apenas o navegador de internet, o programa pôde finalmente ser usado em qualquer computador, com Windows, Mac, Linux ou qualquer outro sistema operacional. Isto é conhecido como “computação na nuvem”. Basta apenas criar uma conta on-line no site do programa, e abri-lo diretamente no navegador, sem qualquer necessidade de baixar o programa e instalá-lo. Por meio de assinatura de serviço, o usuário compra um período de uso, que pode ser de 3 meses, 6 meses ou um ano, e renova quando quiser.

Finalmente, em 2006, o programa em CD é “aposentado”, permanecendo apenas o Vega Plus Online. Neste, novas opções são acrescentadas periodicamente, fazendo com que o programa continue evoluindo constantemente.

últimas considerações

A conversa foi mediada por goles de cafés e algumas digressões. Pude observar no engenheiro-astrólogo-programador, que seus olhos brilhavam ao falar de detalhes técnicos. O que vincula, pelos métodos de cálculos, um método de previsão a uma progressão? O que as diferencia? As escalas de tempo. Surgem, então, em meio a essa conversa, a progressão sinódica, a progressão de arco solar, complementos importantes para um mapa astrológico.

Você, leitor, sabia que não há transição abrupta no universo? Eu não sabia. Entrei em contato com uma necessidade imensa para se fazer os cálculos matemáticos com precisão. Justifica-se, então, uma quase obsessão referente ao rigor absoluto dos cálculos. Carlos Fini era um parceiro entusiasmado nessas questões matemáticas. Um pequeno erro e o que vem a seguir está comprometido de forma impensável. Imagine, que um minuto de diferença na hora de nascimento gera o mesmo erro que 25 km de diferença na longitude da cidade.

Nas poucas horas que passamos juntos, pude comprovar o que as pessoas dizem dele: o intelectual dos cálculos matemáticos na programação para a astrologia, pessoa com grande vocação para fazer as adaptações matemáticas de uma linguagem para a outra.

Amauri Magagna é um apaixonado por esse mundo de exatidões. Ele mantém a postura que deve ter tido durante toda a vida de cérebro a serviço da ciência.

Visite o site profissional de Amauri Magagna Sadhana Informática: http://www.sadhana.com.br/







3 comentários:

  1. Eu me lembro do programa da Xenia Bier , na TV Bandeirantes em que o Facciollo aparecia . Antes dele,só havia do Omar Cardoso que apresentava programa acho que diário no Rádio mas era uma astrologia mais popular. Não se falava em mapa astral. Facciollo já falava de astrologia como um conhecimento sério.

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  2. Sempre me senti muito honrada por contribuir com uma "gotinha" nesta história tão preciosa . Vocês lembram, Amauri Magagna e Marisilda Magagna, nós éramos vistos como "estranhos" nas Fenasofts? As nossas almas aquarianas sempre foram intrépidas desde sempre.Mil abraços da Lea Bastos

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    1. Lea, com certeza é para se sentir honrada ! é uma história bonita.

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