quarta-feira, 29 de março de 2017

O LEGADO DA OFICINA PAULISTA DE ASTROLOGIA: EM BUSCA DA QUALIDADE DO PROFISSIONAL

Claudinèi Dias
  

Ao mapear o desenvolvimento da Astrologia em São Paulo, às vezes encontramos personagens e instituições significativas, mas pouco conhecidas ou lembradas. Uma das instituições importantes na história da Astrologia em terras bandeirantes foi a OPA (Oficina Paulista de Astrologia) e graças às entrevistas com a Pá Falcão e a Divani Terçarolli, que com muita atenção e simpatia compartilharam suas memórias conosco, agora temos um registro do que foi e o que fez a OPA.

No início dos anos 90, Pá Falcão, então profissional de TI, estudante de Astrologia e astróloga iniciante que já tinha contato com vários astrólogos, como Carlos Hollanda, Carlos Fini, Rodrigo Araês Caldas Farias e Valdenir Benedetti, começou a envolver-se mais com o ambiente astrológico paulistano. Após conhecer mais pessoas e instituições, decidiu fazer uma abordagem que considerava mais adequada aos tempos correntes e à sua visão do que deveria ser o relacionamento entre os astrólogos e a sua participação na sociedade.

Outros astrólogos também tinham essa intenção de estabelecer uma associação que tanto lhes proporcionasse apoio à sua classe e aos seus trabalhos, como também os divulgasse fora da comunidade astrológica. Em São Paulo, Pá Falcão iniciou a OPA, com a participação de Nivaldo Figueiredo de Souza, Ana Cristina Clemente Abbade, Ana Maria Gonzáles e vários outros astrólogos.

A OPA estabeleceu regras e critérios de participação e atuação de seus membros, visando manter um alto nível de qualidade. Isso é visto, por exemplo, nas condições para ser participante da OPA, que requeria, entre outras coisas, que o astrólogo apresentasse seu Curriculum Vitae, escrevesse uma monografia de dez páginas, prestigiasse seus colegas, escrevesse textos e tivesse participação constante nos projetos da OPA e na divulgação da Astrologia. E esse cuidado não só com os astrólogos, mas também com a Astrologia em si, fica mais evidente ainda quando vemos os objetivos da entidade:

·    Esclarecer as pessoas em geral sobre o que vem a ser, de fato, a Astrologia.
·    Apresentar a Astrologia com responsabilidade e qualidade.
·    Criar uma base cultural da Astrologia no estado de São Paulo, através de textos, fitas de áudio e vídeo e banco de dados.
·    Incentivar o público a usar a Astrologia como uma opção para melhoria da qualidade de vida.
·    Dar educação continuada àqueles que já são astrólogos, participando ou não da Oficina Paulista de Astrologia.

Ou seja, a OPA não queria simplesmente buscar clientes para os astrólogos, queria fazer algo quase apostólico no sentido de fortalecer e divulgar a Astrologia, e para isso era preciso capacitar os astrólogos e educar os não-astrólogos.  


A OPA não tinha sede fixa; as reuniões quinzenais aconteciam na casa da Pá, do Nivaldo, ou na Livraria Triom (com o apoio da Renata Carvalho Lima Ramos). Participavam de oito a dez pessoas; algum dos participantes fazia apresentação de um tema, discutiam-se mapas de clientes ou de conhecidos, trocavam-se informações. A OPA incentivava o aprimoramento astrológico de seus participantes e assim eram vistos assuntos como Astrocartografia, Nodos Lunares, Signos e Relacionamentos, Profissões e Astrologia, Astrologia Empresarial, etc., mas não Horóscopo: um dos objetivos era construir (ou resgatar) uma imagem de seriedade e responsabilidade para a Astrologia, em contrapartida à divulgação mais popularesca e superficial que tantas vezes essa Arte recebe.

Outra bandeira da OPA é que os astrólogos se profissionalizassem, que abordassem a Astrologia de forma empresarial. Assim, os participantes tiveram cursos sobre marketing pessoal e de oratória, e também foi feita a padronização dos cartões de apresentação, entre outras providências para que o astrólogo se colocasse como um empreendedor sério e que deve ser respeitado como todo profissional em seu trabalho. Com o acesso mais fácil à internet, no final dos anos 90, ter essa conexão pessoal à rede passou a ser pré-requisito para ingressar na OPA: o astrólogo deveria estar conectado ao mundo e acessível a ele. Logo seguiu-se a criação de site da OPA e a publicação de boletins informativos de frequência variando de semanal a mensal, chegando a 35 edições, e também da criação de um grupo de discussão no Yahoogroups.

Com as demandas pessoais e profissionais, e o nível exigido pela OPA, os participantes mudavam, mas mantinham-se sempre em torno de dez, e também se mantinha a qualidade do trabalho realizado. Divani conheceu Pá entre 1996 e 1997 e entrou ativamente na OPA em 1999. Também passaram pela OPA, ou participaram de suas atividades: Maurice Jacoel, Lilian Barros e Maria Tereza Nabholz, entre vários outros.

Em 1999, Pá esteve num encontro de Astrologia na Inglaterra, conheceu Robert Hand, Noel Tyl e outros astrólogos famosos e que publicavam livros. Inspirada por esses contatos, ela decidiu realizar um congresso no Brasil buscando aquele nível de excelência que viu em terras bretãs e com um desses astrólogos como atração.

Pá convidou Noel Tyl para vir ao Brasil e em 2000 realizou com ele um evento de palestras e atendimentos, na antiga União Cultural Brasil Estados Unidos, na Rua Oscar Porto (região da Avenida Paulista, em São Paulo), movimentando o cenário astrológico paulista.

Numa entrevista do evento, perguntaram a Tyl o que ele achava do mapa do Brasil e ele respondeu, leoninamente, que não tinha o que dizer sobre algo que não existia, pois não havia um mapa astrológico oficial ou de consenso sobre o Brasil. Isso foi o estímulo para Pá encarar mais um desafio: defender, entre os astrólogos brasileiros, o mapa do Brasil com o Ascendente em Aquário, e convocar trabalhos de diversos autores sobre esse mapa.

Esse esforço resultou no livro Brasil Corpo e Alma – Re-conhecendo o Brasil pela Astrologia, organizado pela Renata, da Triom, e com textos de Adonis Saliba, Ana Maria Gonzáles, Carlos Fini, Eneici Prado, Hanna Opitz, João Acuio, Lydia Vainer, Maria Tereza Nabholz, Maurice Jacoel, Maurício Bernis, Nivaldo Figueiredo de Souza, Paula (Pá) Falcão, Sergio Frug, Sonia M. de Lima, Teresinha Queiroz e Waldyr Bonadei Fücher. Esse livro mereceu um lançamento especial em 2001.

Nessa época, Pá já fora apresentada por Divani ao Maurício Bernis, e esse contato ajudou a reforçar a determinação da abordagem empresarial para o trabalho dos astrólogos. Ela também tinha contato vários astrólogos do cenário brasileiro, estava bastante ativa na lida astrológica, mas começara a se afastar da OPA. Havia avançado bastante em outra de suas paixões – o desenvolvimento de jogos cooperativos – e ganhara proximidade com o pessoal de RH (Recursos Humanos). Conseguiu o apoio da APARH (Associação Paulista de RH) e realizou um congresso no Hotel Transamérica, da Alameda Santos (São Paulo), com toda a infraestrutura de um grande evento, duas palestras simultâneas e vivências, e o lançamento do livro. Vários astrólogos participaram, porém o público foi majoritariamente de profissionais de RH, servindo para a aproximação da Astrologia junto às empresas.

O sucesso desse evento levou à realização de novo congresso em 2002. Mas Pá já começara a deixar a OPA, pois sua carreira de desenvolvedora de jogos cooperativos estava em plena ascensão; também havia ainda o peso do impacto financeiro de bancar a vinda de Noel Tyl, e o desgaste pela constante busca de mercado, melhorias e excelência para os astrólogos. Divani também estava focada no desenvolvimento de sua carreira e já estava afastada da OPA desde a época do evento com Tyl. Outros astrólogos que participavam da OPA seguiram o mesmo caminho e a instituição acabou, informalmente como surgira e existira, após cerca de dez anos de atuação.


Além do evento com Noel Tyl, dos congressos em parceria com a APARH, e do livro Brasil de Corpo e Alma, o legado da OPA inclui a busca da profissionalização dos astrólogos e da valorização da Astrologia. Ideias defendidas pela OPA podem ser encontradas em outras instituições, como a AstroBrasil, onde atua a Divani: educação continuada do astrólogo, aproximação das empresas, prestação de serviços de forma profissional (e não como hobby) do astrólogo, etc. Isso colaborou para a formação de vários astrólogos, como Titi Vidal, Elizabeth Nakata e Patrícia Valente. Nessa década de existência, a OPA mostrou o que é possível conseguir em termos de qualidade e de realizações, desde que se encare os grandes desafios que surgem.

Divani continua atuando na Astrologia, participando da AstroBrasil e dando cursos. Pá ficou 14 anos afastada completamente do ambiente astrológico, mas entendeu-se com Saturno e em 2015 voltou a estudar e a atender. Isso é muito bom para a Astrologia de São Paulo, que agradece :)   


Claudinèi Dìas é astrólogo especializado em Astrologia Clássica, blogger em “Astrologia do Rock” (http://astrologiadorock.blogspot.com) e participa da equipe que realiza a pesquisa na História da Astrologia em SP. 







2 comentários:

  1. Conheci a Pá nos anos 90 e não desgrudo dela até hoje, mas, embora não me considere uma astróloga, continuo estudando e realizando atendimentos, sem esquecer os anos 90, onde congressos e grandes escolas foram criadas...

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