Claudinèi Dias
Ao
mapear o desenvolvimento da Astrologia em São Paulo, às vezes encontramos
personagens e instituições significativas, mas pouco conhecidas ou lembradas.
Uma das instituições importantes na história da Astrologia em terras
bandeirantes foi a OPA (Oficina Paulista de Astrologia) e graças às entrevistas
com a Pá Falcão e a Divani Terçarolli, que com muita atenção e simpatia
compartilharam suas memórias conosco, agora temos um registro do que foi e o
que fez a OPA.
No
início dos anos 90, Pá Falcão, então profissional de TI, estudante de
Astrologia e astróloga iniciante que já tinha contato com vários astrólogos,
como Carlos Hollanda, Carlos Fini, Rodrigo Araês Caldas Farias e Valdenir
Benedetti, começou a envolver-se mais com o ambiente astrológico paulistano.
Após conhecer mais pessoas e instituições, decidiu fazer uma abordagem que
considerava mais adequada aos tempos correntes e à sua visão do que deveria ser
o relacionamento entre os astrólogos e a sua participação na sociedade.
Outros
astrólogos também tinham essa intenção de estabelecer uma associação que tanto
lhes proporcionasse apoio à sua classe e aos seus trabalhos, como também os
divulgasse fora da comunidade astrológica. Em São Paulo, Pá Falcão iniciou a
OPA, com a participação de Nivaldo Figueiredo de Souza, Ana Cristina Clemente
Abbade, Ana Maria Gonzáles e vários outros astrólogos.
A
OPA estabeleceu regras e critérios de participação e atuação de seus membros,
visando manter um alto nível de qualidade. Isso é visto, por exemplo, nas
condições para ser participante da OPA, que requeria, entre outras coisas, que
o astrólogo apresentasse seu Curriculum Vitae, escrevesse uma monografia de dez
páginas, prestigiasse seus colegas, escrevesse textos e tivesse participação
constante nos projetos da OPA e na divulgação da Astrologia. E esse cuidado não
só com os astrólogos, mas também com a Astrologia em si, fica mais evidente
ainda quando vemos os objetivos da entidade:
· Esclarecer as pessoas em geral sobre o que vem a ser,
de fato, a Astrologia.
· Apresentar a Astrologia com responsabilidade e
qualidade.
· Criar uma base cultural da Astrologia no estado de São
Paulo, através de textos, fitas de áudio e vídeo e banco de dados.
· Incentivar o público a usar a Astrologia como uma opção
para melhoria da qualidade de vida.
· Dar educação continuada àqueles que já são astrólogos,
participando ou não da Oficina Paulista de Astrologia.
Ou
seja, a OPA não queria simplesmente buscar clientes para os astrólogos, queria
fazer algo quase apostólico no sentido de fortalecer e divulgar a Astrologia, e
para isso era preciso capacitar os astrólogos e educar os não-astrólogos.
A
OPA não tinha sede fixa; as reuniões quinzenais aconteciam na casa da Pá, do
Nivaldo, ou na Livraria Triom (com o apoio da Renata Carvalho Lima Ramos).
Participavam de oito a dez pessoas; algum dos participantes fazia apresentação
de um tema, discutiam-se mapas de clientes ou de conhecidos, trocavam-se
informações. A OPA incentivava o aprimoramento astrológico de seus
participantes e assim eram vistos assuntos como Astrocartografia, Nodos
Lunares, Signos e Relacionamentos, Profissões e Astrologia, Astrologia
Empresarial, etc., mas não Horóscopo: um dos objetivos era construir (ou
resgatar) uma imagem de seriedade e responsabilidade para a Astrologia, em
contrapartida à divulgação mais popularesca e superficial que tantas vezes essa
Arte recebe.
Outra
bandeira da OPA é que os astrólogos se profissionalizassem, que abordassem a
Astrologia de forma empresarial. Assim, os participantes tiveram cursos sobre
marketing pessoal e de oratória, e também foi feita a padronização dos cartões
de apresentação, entre outras providências para que o astrólogo se colocasse
como um empreendedor sério e que deve ser respeitado como todo profissional em
seu trabalho. Com o acesso mais fácil à internet, no final dos anos 90, ter
essa conexão pessoal à rede passou a ser pré-requisito para ingressar na OPA: o
astrólogo deveria estar conectado ao mundo e acessível a ele. Logo seguiu-se a
criação de site da OPA e a publicação de boletins informativos de frequência
variando de semanal a mensal, chegando a 35 edições, e também da criação de um
grupo de discussão no Yahoogroups.
Com
as demandas pessoais e profissionais, e o nível exigido pela OPA, os
participantes mudavam, mas mantinham-se sempre em torno de dez, e também se
mantinha a qualidade do trabalho realizado. Divani conheceu Pá entre 1996 e
1997 e entrou ativamente na OPA em 1999. Também passaram pela OPA, ou
participaram de suas atividades: Maurice Jacoel, Lilian Barros e Maria Tereza
Nabholz, entre vários outros.
Em
1999, Pá esteve num encontro de Astrologia na Inglaterra, conheceu Robert Hand,
Noel Tyl e outros astrólogos famosos e que publicavam livros. Inspirada por
esses contatos, ela decidiu realizar um congresso no Brasil buscando aquele
nível de excelência que viu em terras bretãs e com um desses astrólogos como
atração.
Pá
convidou Noel Tyl para vir ao Brasil e em 2000 realizou com ele um evento de
palestras e atendimentos, na antiga União Cultural Brasil Estados Unidos, na
Rua Oscar Porto (região da Avenida Paulista, em São Paulo), movimentando o
cenário astrológico paulista.
Numa
entrevista do evento, perguntaram a Tyl o que ele achava do mapa do Brasil e
ele respondeu, leoninamente, que não tinha o que dizer sobre algo que não
existia, pois não havia um mapa astrológico oficial ou de consenso sobre o
Brasil. Isso foi o estímulo para Pá encarar mais um desafio: defender, entre os
astrólogos brasileiros, o mapa do Brasil com o Ascendente em Aquário, e
convocar trabalhos de diversos autores sobre esse mapa.
Esse
esforço resultou no livro Brasil Corpo e Alma – Re-conhecendo o Brasil pela
Astrologia, organizado pela Renata, da Triom, e com textos de Adonis
Saliba, Ana Maria Gonzáles, Carlos Fini, Eneici Prado, Hanna Opitz, João Acuio,
Lydia Vainer, Maria Tereza Nabholz, Maurice Jacoel, Maurício Bernis, Nivaldo
Figueiredo de Souza, Paula (Pá) Falcão, Sergio Frug, Sonia M. de Lima,
Teresinha Queiroz e Waldyr Bonadei Fücher. Esse livro mereceu um lançamento
especial em 2001.
Nessa
época, Pá já fora apresentada por Divani ao Maurício Bernis, e esse contato
ajudou a reforçar a determinação da abordagem empresarial para o trabalho dos
astrólogos. Ela também tinha contato vários astrólogos do cenário brasileiro,
estava bastante ativa na lida astrológica, mas começara a se afastar da OPA.
Havia avançado bastante em outra de suas paixões – o desenvolvimento de jogos
cooperativos – e ganhara proximidade com o pessoal de RH (Recursos Humanos).
Conseguiu o apoio da APARH (Associação Paulista de RH) e realizou um congresso
no Hotel Transamérica, da Alameda Santos (São Paulo), com toda a infraestrutura
de um grande evento, duas palestras simultâneas e vivências, e o lançamento do
livro. Vários astrólogos participaram, porém o público foi majoritariamente de
profissionais de RH, servindo para a aproximação da Astrologia junto às
empresas.
O
sucesso desse evento levou à realização de novo congresso em 2002. Mas Pá já
começara a deixar a OPA, pois sua carreira de desenvolvedora de jogos
cooperativos estava em plena ascensão; também havia ainda o peso do impacto
financeiro de bancar a vinda de Noel Tyl, e o desgaste pela constante busca de
mercado, melhorias e excelência para os astrólogos. Divani também estava focada
no desenvolvimento de sua carreira e já estava afastada da OPA desde a época do
evento com Tyl. Outros astrólogos que participavam da OPA seguiram o mesmo
caminho e a instituição acabou, informalmente como surgira e existira, após
cerca de dez anos de atuação.
Além do evento com Noel Tyl, dos congressos em parceria com a APARH, e do livro Brasil de Corpo e Alma, o legado da OPA inclui a busca da profissionalização dos astrólogos e da valorização da Astrologia. Ideias defendidas pela OPA podem ser encontradas em outras instituições, como a AstroBrasil, onde atua a Divani: educação continuada do astrólogo, aproximação das empresas, prestação de serviços de forma profissional (e não como hobby) do astrólogo, etc. Isso colaborou para a formação de vários astrólogos, como Titi Vidal, Elizabeth Nakata e Patrícia Valente. Nessa década de existência, a OPA mostrou o que é possível conseguir em termos de qualidade e de realizações, desde que se encare os grandes desafios que surgem.
Divani
continua atuando na Astrologia, participando da AstroBrasil e dando cursos. Pá
ficou 14 anos afastada completamente do ambiente astrológico, mas entendeu-se
com Saturno e em 2015 voltou a estudar e a atender. Isso é muito bom para a
Astrologia de São Paulo, que agradece :)
Claudinèi
Dìas é astrólogo especializado em Astrologia Clássica, blogger em “Astrologia
do Rock” (http://astrologiadorock.blogspot.com)
e participa da equipe que realiza a pesquisa na História da Astrologia em SP.
Conheci a Pá nos anos 90 e não desgrudo dela até hoje, mas, embora não me considere uma astróloga, continuo estudando e realizando atendimentos, sem esquecer os anos 90, onde congressos e grandes escolas foram criadas...
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