Houve uma época em que as
livrarias tiveram uma presença muito importante na divulgação da astrologia. Havia
uma mobilização em torno delas, que eram o local de chegada das novidades da
época.
As décadas 60, 70 , 80 e 90 refletiam
os efeitos do que ocorrera nos anos 60 quando tivemos a conjunção de Plutão e
Urano no signo de Virgem. A sociedade mundo tinha sido abalada por conflitos e
crises que mudariam a imagem de tudo e deixariam um rastro de grandes
transformações.
Nesse contexto havia a promessa de
um mundo novo. Havia aberturas em diversas áreas da cultura, da arte e do
pensamento. As livrarias eram a porta de entrada para a disseminação dos
efeitos dos acontecimentos citados. Livros, jornais e revistas locais e
internacionais assim como encontros e palestras faziam circular as ideias e as artes
desse mundo novo.
O bordão desse novo mundo trazia
pessoas aos eventos de astrologia nesses espaços junto ao público. Não havia
ainda a concorrência de outras novidades na área divinatória e esotérica que
chegariam um pouco depois. Era um mundo sem internet, sem a imediatez das
comunicações que começou a se popularizar um pouco depois de forma mais ampla.
Algumas das livrarias tiveram uma
função divulgadora da astrologia. Entre elas podemos citar as livrarias Spyro, Horus,
Zipak, Triom e Arjuna que funcionariam como ponto de encontro para o público e
local para profissionais mobilizarem seu conhecimento. Formavam um ambiente
para trocas que hoje pode ter seu paralelo nos grupos que se formam nas redes
virtuais. Algumas delas fecharam, outras ainda se mantêm em funcionamento, mas
foram perdendo tal função. Hoje observamos que elas tentam manter a função de
espaço de convivência e trocas em uma diversificação de assuntos, característica
própria a um mundo conectado e que atende aos apelos de um público exigente que
tem interesses múltiplos.
A chegada da internet trouxe
mudanças incontornáveis. Outros aspectos podem ter interferido nessas mudanças
e na perda de espaço da astrologia nas livrarias. A abertura de outros
empreendimentos comerciais como as lojas grandes como a Fnac ou a presença de portais
de comércio como a Amazon são movimentos irreversíveis.
Vale a pena lembrarmos de como
foi essa fase das livrarias. Foi um tempo especial, foi uma época de ouro.
A Spyro foi uma dessas livrarias que
ampliaram o contato com seu público e propiciaram espaço de trocas de
conhecimento. Talvez tenha sido a que mais expandiu informações e conceitos astrológicos.
Spiro,
uma livraria especial
Ela foi fundada em outubro de
1991 e fechou as portas em agosto de 2005. A intenção da livraria era espalhar
ideias novas tais como a ampliação da consciência e o conceito do
autoconhecimento e da espiritualidade.
A primeira locação da livraria
era uma casa pequena, um sobrado na avenida Lorena que combinava com os
objetivos a ela destinados. Ampliou o espaço para a casa ao lado, depois voltou
ao tamanho inicial, tendo sido sempre um convite para encontros.
O grupo fundador reunia pessoas
com experiências pessoais interessantes. Desenhava-se a “experiência Spiro”. E
havia também uma frase, na verdade um conceito, que era distribuído pelos
espaços e frequentadores: Livros de conhecimento do homem e do mundo. Havia
conceitos e intenções que contribuiriam para materializar a forma como a
livraria funcionaria.
Várias pessoas passaram pela
organização societária da empresa. Cada uma deixou sua marca, suas preferências
o que pode ter gerado o perfil flexível e rico que a livraria ganhou. As
pessoas mais frequentes foram Patrícia Aguirre, Marinos Van Der Molen e Lili
Guimarães.
Lili acrescentou sua marca
pessoal no projeto de divulgação por meio de folhetos enviados mensalmente por
correio. Eram desenvolvidos em papel reciclado com bom gosto e variadas seções.
Começava com uma apresentação do mês em texto sugestivo, linguagem informal e
seguia com indicações de leituras, eventos do mês (cursos e palestras) e indicação
de CDs. A seção “Amigos da Spiro” antecipava uma política de fidelização de
cliente e com simpatia divulgava eventos e trabalhos.
Entre as inovações havia a importação
de livros e CDs de música como a étnica e a new age. A livraria se preocuparia em
manter as seções atualizadas de acordo com o que havia de melhor em catálogos
estrangeiros.
No texto de maio de 1999, o
folheto diz: “Acredito nesta Spiro: acolhedora, rica, curiosa e inquieta, uma
Spiro cheia de alegria e boa vontade para receber a vida como ela se oferece e
absolutamente determinada a jogar um olhar na beleza , na harmonia, na evolução
do nosso dia a dia, do nosso estilo de vida, enfim”. Era um propósito ousado e
sedutor. Dentro dessa filosofia, além dos livros, o cliente iria para trocar
ideias, tomar um café o que naquela época não era comum, ler uma revista ou
descansar depois do bate-pernas pela vizinhança.
Lucely Kerikian , que exerceu várias
funções, foi a profissional que participou o tempo todo da vida da livraria desde
seu momento inicial até o fechamento. Podemos dizer que ela era a representação
física da Spyro.
Vários assuntos tinham seu espaço
garantido nos eventos e prateleiras, entre eles a contação de histórias (com
Regina Machado) e a mitologia (com Viktor Sallis). Havia também cabala,
pathwork, meditação, artesanato, curso em milagres e muita astrologia. Mas eu
posso supor que a astrologia foi o assunto que mais mobilizou a livraria pela
quantidade de eventos realizados e pelo público expressivo que acomodava.
A organização desses eventos
relacionados durante muito tempo esteve sob a responsabilidade de Ana Cristina
Abbade. Eles ocorriam com regularidade e
variedade: lançamento de livros, mesas-redonda, palestras. Chegaram a ganhar
espaço na mídia com César Giobbi no jornal O Estado de São Paulo.
Na astrologia, especialmente de
1996 a 2002, aconteceram comemorações de equinócios (com leitura de planetas em
mapas), mesas redondas com temas da época tais como a questão ética e religiosa
(a clonagem de Dolly), o grande eclipse de 1999 e o encontro planetário do ano
2000. Houve entrevistas, lançamentos de livros e cursos rápidos. Em junho de
2000, houve uma noite de autógrafos com Noel Tyl, astrólogo americano convidado.
São estes alguns dos astrólogos
que participaram dos eventos: Ademar Eugênio de Mello Amâncio Friaça, Ana
Cristina Abbade, Ana González, Bárbara Abramo, Betoh Simonsen, Carlos Fini,
Ciça Bueno, Cláudia Furtado, Douglas Marnei, Luiza Olivetto, Lydia Vainer,
Márcia Mattos, Maria Alice Camargo, Maria Tereza Nabholz, Marylou Simonsen,
Maurício Bernis, Mônica Murgel, Oscar Quiroga, Paula Falcão, Robson Papaleo, Rose
Villanova, Sandra Perin, Sérgio Frug, Valdenir Benedetti.
Cada época guarda suas características. É importante resgatar o papel imprescindível da livraria Spiro para a astrologia em São Paulo.
Cada época guarda suas características. É importante resgatar o papel imprescindível da livraria Spiro para a astrologia em São Paulo.
Folheto de divulgação enviado pelo correio e dobrado em três.
Divulgação de evento astrológico, organizado por Valdenir Benedetti.
Divulgação de evento astrológico, organizado por Valdenir Benedetti.
Um folheto com mensagem - destaque para o cuidado do material feito pela livraria.
Pergunta A: O que seria dos seres humanos sem os livros, revistas e jornais para ampliar o conhecimento e a cultura dos brasileiros. Pergunta B: O que será dos seres humanos sem os livros, revistas e jornais para ampliar o pouco de conhecimento e cultura que ainda restam aos brasileiros, mas que a Internet está "deletando" esse pouco de conhecimento e cultura que ainda restam aos brasileiros.
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