quinta-feira, 6 de setembro de 2018

CLÁUDIA LISBOA E A ESCOLA JÚPITER

Ana Maria M. González


As escolas são local de aprendizagem e de encontro. No caso de Cláudia Lisboa, a Escola Júpiter representou também momento de definição. 

CLÁUDIA LISBOA E A ESCOLA JÚPITER

A passagem pela Escola Júpiter em São Paulo foi importante na construção de sua carreira como astróloga. Era época de juventude quando a vida ainda está sendo definida em muitos de seus aspectos. À beleza dessa fase da vida podemos acrescentar dúvidas, medos e ansiedades. Definições são delineadas em meio a angústias. Não foi diferente com Cláudia Lisboa. Ainda em São Paulo, algum tempo depois, Cláudia teve outras oportunidades dando aulas e palestras em casa e escola de amigos, infindáveis palestras e cursos. Depois, veio a exposição na mídia e os livros em que junta seu conhecimento e amor pela Astrologia.

Mas, como foi o começo de sua carreira na Escola Júpiter?

ESCOLA JÚPITER DE ASTROLOGIA


São Paulo era somente uma passagem geográfica em sua vida. Seus caminhos iam de Porto Alegre ao Rio de Janeiro, onde nascera, para a visita aos avós, cortando a cidade paulista, meio a contragosto. Era um atraso na direção ao destino. De carro, São Paulo era a passagem chata.

Foi em Porto Alegre que ela conheceu Dona Emmy de Mascheville quando fazia arquitetura. Uma turma jovem adepta da contracultura agitava o ambiente. A Astrologia fazia parte dos conteúdos dessa geração que exercitava a prática da rebeldia. Apaixonou-se pela mestra e pela Astrologia no primeiro dia de aula. E poucos dias depois, viu-se sentada calculando mapas e luas progredidas. Tinha facilidade para isso e talvez estivesse apenas relembrando. Sua tarefa era transcrever as gravações dos mapas que seriam entregues aos clientes, o que lhe trouxe enorme aprendizagem prática junto à mestra. Era 1974. Certo dia, Antonio Carlos Harres Bola entrou na sala em que ela estava fazendo cálculos e vaticinou: "Você vai fazer isso um dia".

Mesmo assim seus estudos de arquitetura seguiram.

Não muito anos depois, viveu uma crise em uma noite insone: “Não é isso que eu quero". Em meio a angústias começou uma carta para o amigo Bola. Estava aos prantos. Era duas horas da manhã. Mas sua mãe entra no quarto e lhe diz que Bola quer falar com ela ao telefone. Ele então reclama: "O que acontece que eu não consigo dormir?." Surpresa e concomitância nas emoções! Ela lhe descreve as estranhas sensações e ansiedades perante desejos de fazer astrologia. Veio o convite do amigo: " Vem morar com a gente." Então, ela foi de mala e cuia para São Paulo. Era uma cidade desconhecida. Mas lá estava a Escola Júpiter, onde continuou a fazer os cálculos: " Eu era o apple da época.", brinca.

Um dia substituiu o amigo Antonio Carlos Bola em aula de cálculo.

Deu a aula e gostou. Os alunos gostaram!  Depois soube que era uma pequena e útil armação para quebrar resistências e fazer ela começar a dar aulas. Acabou assumindo aulas de cálculo do grupo.

Era o começo de sua integração em uma escola que, embora não tivesse um currículo, apresentava certa organização, aulas de matérias variadas e professores. O que parecia estranho para Cláudia que em POA tinha seu lugar de trabalho em mesa de garagem. Suas aulas giravam sempre em volta uma conversa, intencionalmente sem teor acadêmico.  Logo era professora também em aulas de conceitos básicos e de interpretação.

Havia camaradagem entre os três professores responsáveis pela escola, Olavo de carvalho, Antonio Carlos Harres Bola e Marylou Smonsen. Havia também divergências teóricas entre Olavo e Bola, como por exemplo relacionadas às regências. Havia os seguidores de Antonio Carlos Harres e os do Olavo de Carvalho. E havia uma bolha energética junto a D. Emmy que frequentava a escola dando palestras. A Revista Júpiter que era uma produção do grupo trouxe em um dos números matéria escrita pela mestra Emmy.

Tudo isso formava um território que se tornou familiar. Havia aulas, mapas, os amigos Marylou, Bola, Olavo. Cláudia Lisboa assistia às aulas de todos. Morava em uma casinha de vila, em Perdizes. Levou a arquitetura até o quinto ano, sem finalizar. Realmente ela não gostava da natureza acadêmica.

A Escola Júpiter era uma congregação e espécie de fraternidade. Todos estavam sempre juntos. Caronas pra lá e pra cá. A casa da Marylou Simonsen era um ponto de encontro. Parecia uma grande família de desgarrados.

Era 1979. A escola fechou 1980. Como? Por quê? Havia dificuldades para manter a escola. O amigo Antonio Carlos Bola tinha avisado.

Era momento de mudar. Foi então para o Rio assumir a turma de alunos que o amigo tinha deixado. Começou dando aulas de cálculos, claro!

E DEPOIS?

Depois, todos sabemos o que aconteceu. Cláudia Lisboa continuou a dar aulas, deu palestras, foi para a TV, publicou livros, cresceu como profissional.

E o que mais ficou na memória dessa época?

O tempo de Escola Júpiter foi de amadurecimento e aprofundamento da parte técnica da Astrologia. Tempo de aprendizado.

Outras lembranças enfatizam marcas daquela época em sua carreira de astróloga. Nos trajetos de ônibus equacionava os problemas de mecânica celeste, importantes para quem quer conhecer os cálculos astrológicos. Tais estudos de astronomia a prepararam para o trabalho posterior com a mecânica celeste. Essa foi uma herança preciosa de seu pai que estudava astronomia. São muitos os flashs de sala de aula guardados em cantos insuspeitados. E vê-se ainda sentada e calculando os mapas ou ainda no escritório do amigo Bola. As conversas com dona Emmy. Em todas essas memórias, está identificada a relação afetiva de Cláudia Lisboa com suas experiências.

Foram desejos de muitos e de todos que casaram bem. Era também para ela uma época difícil de grande mudança e transição. Foi um ano apenas na Escola Júpiter, mas foi lá que ela viveu o impulso da grande mudança. Largou tudo e foi ser astróloga.

Voltando ao Rio de Janeiro ainda trabalhou em escritório de arquitetura desenvolvendo projetos de stands para feiras. Virava noites projetando e viajava muito. Paralelamente havia a rotina de mãe com filha pequena e a casa e o trabalhoso equilíbrio das finanças.

Mais tarde fez outros contatos em SP que lhe permitiram a continuidade das aulas para grupos. Deu aulas na casa da empresária e produtora artística Célia Macedo (1998) e nas escolas de Valdenir Benedetti (1998) com quem conheceu vários conceitos diferentes tais como indicador condicional, acidental e natural. Segundo Cláudia, ele tinha inteligência rara e pelo jeito encantador de sua personalidade, as conversas entre eles se desenvolviam longamente. Na casa de Maria José Langone (1998 a 2005) por longos cinco anos deu aulas e organizou até um curso de formação. Dava palestras em eventos, fazia mapas em expressiva formação de clientela. Maria José (Zezé) fazia a agenda e funcionava como uma espécie de eminência parda gerenciando tudo. Cláudia tinha uma espécie de franquia paulista do que acontecia no Rio.

Essas aulas em várias épocas e lugares desenha sua história no ensino da astrologia, e enquanto fazia mapas, iniciou uma pesquisa nas profundezas psíquicas da natureza humana. Mas, nesse ponto do encontro, nossa conversa tomou um rumo diferente.

Momento para reflexões

Ao final do encontro, Cláudia começou a fazer uma comparação entre a época em que ela decidiu ser astróloga e os tempos de hoje em dia. Foram apontados aspectos diferentes na formação do profissional e decisão de ser astrólogo.

Naqueles tempos, o estudioso de Astrologia começava a trabalhar sem noção de detalhes que hoje em dia são importantes e que promovem qualidade na formação do profissional. Por exemplo, hoje em dia há a consciência da necessidade de supervisão na prática que começa. Um acompanhamento e grupos de supervisão para os alunos que se profissionalizam. 

Outro dado é a tendência do saber astrológico ser desgarrado da natureza acadêmica. Segundo ela, à medida em que o saber foi se aproximando do acadêmico, ele ganhou em qualidade de ensino, mas foi perdendo o afeto.

A experiência que ela teve mais recentemente na mídia lhe trouxe observações em relação ao caráter profissional da astrologia. Foram dois anos de programa de 25 minutos no ar no canal GNT. O público desse programa deu um retorno que indicou a força da astrologia. As pessoas escreviam e davam palpites e opiniões. Faziam comentários, perguntas a partir do que era apresentado. Havia mais do que mera tietagem...

Havia a surpresa por esse tipo de Astrologia que era percebida como séria! Na mídia, a astrologia passou por uma simplificação para atingir a um público leigo de forma acessível, ainda que o aprofundamento dos assuntos fosse apontado como possibilidade.

A experiência de iniciar uma carreira em Astrologia é muito particular para cada um. Ela não depende de formação acadêmica mas de uma escola em geral menos formal e aulas com professores e da decisão de se formar profissional apenas.

Na época da sua formação, segundo Cláudia, a decisão de ser astrólogo ia acontecendo um tanto informalmente. A decisão de ser profissional era diferente. paixão de dar aulas. Interessantes reflexões.

Foi assim esse encontro com uma divulgadora e profissional competente da Astrologia ao longo de quase duas horas, à mesa de um restaurante em São Paulo, no final de um café da manhã entre sucos de melancia e cafés. Foi uma conversa franca e cheia de simpatia a partir da qual resgatamos um pedacinho de sua passagem pela Escola Júpiter no começo de sua carreira. Bom lugar para começar uma expressiva carreira de astróloga!


3 comentários:

  1. Tive o prazer de frequentar a Escola Jupiter que ficava numa casinha na travessa da Rua Gabriel Monteiro em SP. Dna Emy a gente sabia que era uma figura ímpar. Claudia uma grande amiga, e Bola como professor. Guardo alguns conhecimentos até hj.

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    1. Que bonito seu depoimento!Obrigada. Há um artigo a respeito da Escola Júpiter a ser publicada na próxima semana. Foi uma escola muito especial.

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