sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

ESCOLA JÚPITER DE ASTROLOGIA, SEMENTE E CELEIRO


Ana Maria Mendez González

Antonio Carlos Bola Harres diz em seu texto acerca da História da Astrologia Brasileira : “A Escola Júpiter acaba incentivando o surgimento de outras escolas: a de Cláudia Lisboa no Rio de Janeiro, de Maurice Jacoel-a Girassol- e a GEA-  Grupo de Estudos de Astrologia de Elizabeth Friederich.” (*)



Essa frase me deu um sinal que eu procurava para estabelecer uma relação entre escolas. O que teria realizado a Escola Júpiter para ser reconhecida como semente para o aparecimento de outras?


AULAS, PUBLICAÇÕES, EVENTOS


O terrestre, o habitual podes olhar
unindo o imediato ao imediato:
nisso se resume teu poder.
Mas tudo que latente e oculto age
No seio da natureza mais profunda;
A escada de espíritos que sobe
Desde o mundo poeirento até as estrelas
Onde atuam poderes celestiais,
Isso só quem vê é o olho claro
Dos filhos de júpiter, despertos.
Schiller
(versos citados em folheto de divulgação da escola)



Aula inaugural, 1979: Uma nova maneira de ensinar Astrologia
A Escola Júpiter foi fundada por Antonio Carlos Bola Harres, Mary Lou Simonsen e Olavo de Carvalho, tendo desenvolvido atividades entre 1979 e 1981, tempo curto de intensa atividade.

Além dos cursos (enumerados em folheto de divulgação) e atendimento de leitura de mapas, a escola realizou publicação de revistas, de livros e organizou três eventos no Augusta Boulevard Hotel em São Paulo.

O Primeiro Seminário de Astrologia, cujo tema era “A Astrologia na Era de Aquário” em 17 de fevereiro de 1979, contou com os palestrantes: Juan Alfredo César Müller, Antonio Carlos Harres, Olavo de Carvalho , Antonio Facciolo Neto e Emma Costet de Mascheville.
Cursos programados e a inspiração de Schiller

O Segundo Seminário de Astrologia aconteceu em setembro de 1979  e o terceiro, em 2 e 3 de fevereiro de 1980. Neste último o evento teve como palestrante estrangeiro convidado Boris Cristoff, nascido búlgaro e radicado no Uruguai.

Alguns astrólogos repetiram sua presença nos dois últimos eventos: Maria Eugênia, Emma Costet de Mascheville, Olavo de Carvalho, Antonio Carlos Harres.

Outros palestrantes estiveram em um ou outro encontro: Fiore Feola Filho, Elizabeth Friedrich, Juan Alfredo César Müller, Rodrigo Araês de Caldas Farias, Ignácio da Silva Telles, Marina Ungaretti, Gerson Corrêa, Gladys Zrncevich, Roberto Aguillar, Maria Glória Arieira, Roberto Denelli, Gary Dale Richman.

Propósito da Revista Júpiter

Um desses eventos apresentou um painel com o tema “Astrologia e comunicação social” de que participaram: Alcides Lemos, Luís Pellegrini, Waldir Zwetsch, Ana Maria Bahiana, José Emílio Rondeau, José Eduardo Borgonovi e Silva, Marco Antonio Lacerda e Fernando Portela.





DEPARTAMENTO DE PUBLICAÇÕES

Capa de uma das três revistas   
A escola desenvolveu um departamento de publicações de acordo com citação em um dos volumes da JÚPITER, REVISTA DE ASTROLOGIA. Dessa revista, segundo informações, houve três números. O índice de uma delas (a número 00) traz matérias escritas por Olavo de carvalho, por Antônio Carlos Harres, Juan Alfredo Cesar Muller, Emma Costet de Masheville. A filosofia estava presente em alguns de seus conteúdos sob autoria de Juan Alfredo César Müller e de Olavo de Carvalho.

Havia também o CADERNO DE ASTROLOGIA, que teria a intenção, expressa em uma cópia de setembro de 1980, ANO I, Número 2, de “publicar trabalhos e pesquisa astrológica realizados pelos professore e alunos.


Caderno de Astrologia com pesquisas de professores e alunos

O ousado projeto de editoração incluía a publicação de um livro de Müller (publicado em 1967; editora Cupolo/SP) em seis fascículos, que por sua vez, viriam dentro da revista e que seriam descartáveis: ALQUIMIA MODERNA (TRANSPSICOLOGIA). A capa plastificada com ilustração medieval seria comprada pela pessoa interessada e enviada por correio. Outros tempos!

Livro de Emma de Mascheville, lançado na Escola Júpiter 
Em 1980, a Escola Júpiter publicou o livro “ELEMENTOS BÁSICOS DE ASTROLOGIA”, de autoria de Emma de Mascheville, que vinha com frequência a São Paulo para dar cursos. Segundo Elizabeth Friederich, fundadora da escola Gea e que esteve na Escola Júpiter alguns meses como recepcionista e sublocando sala para atendimentos, D. Emma era uma pessoa que desenvolvia com simplicidade conceitos profundos, mesmo em sua comunicação mais cotidiana. 

Os ideais da escola estão descritos na primeira Revista de Astrologia (Ano I, nº 0, junho 1979). O último parágrafo da apresentação diz : ”O propósito da Escola Júpiter é contribuir para que a imensa riqueza representada por milênios de investigação e arte astrológica possa chegar até os estudiosos brasileiros e fecundar com novas sugestões, como novos enfoques e uma nova linguagem a criação permanente da cultura nacional. De uma cultura que, tendo superado todo provincianismo e toda inibição intelectual, se abra, frondosa e viva, para o desafio de pensar o homem em escala cósmica”.

Tais palavras de Olavo de Carvalho pontuam o alto teor das intenções dessa escola bem representados metaforicamente na imagem escolhida para seu logo. Trata-se de uma releitura da imagem do Homem Vitruviano, desenhado por alguns estudiosos entre os quais Leonardo da Vinci. O Homem de Vitrúvio, arquiteto romano, é um conceito que estabelece um cânone de proporções para o corpo humano. Na verdade, um ideal clássico de beleza. E pode ser também um símbolo de simetria do corpo humano e do universo. Os responsáveis pela escola Júpiter associavam a Astrologia com esse ideal de beleza e harmonia.


A ESCOLA JÚPITER NA MÍDIA

Publicação de Alquimia Moderna em fascículos
Algumas publicações na mídia de épocas diferentes podem nos dar uma ideia mais clara a respeito dos importantes efeitos da escola. 

A REVISTA VEJA de 09 de abril de 1980, no artigo “ALTO ASTRAL, já se faz horóscopo até por computador”, apresenta uma descrição da escola e da publicidade que a Astrologia ganha naquela época, pela presença da computação na Europa e que chega até o Brasil. A reportagem destaca que em um ano de funcionamento a Escola Júpiter dobrou o número de alunos de 70 para 140.  

Escola Júpiter na revista Veja.  Novidades divulgadas  

Empresário de óperas Marco Vigiani traz da França, de André Barbault, o Astroflash, programa que faz mapa em 45 segundos. Segundo o texto da revista, “O Astroflash é encarado pelos astrólogos apenas como uma brincadeira, embora feita com mais seriedade do que as previsões que se encontram nos jornais.” Por essa última afirmação podemos entender que a grande revolução provocada pela computação ainda não tinha sido completamente percebida pelos astrólogos brasileiros.

A matéria da Veja continua dizendo que a Escola Júpiter estaria mais preocupada em autoconhecimento do que em previsões. A matéria cita um médico homeopata, um administrador de empresas, um engenheiro e uma psicóloga que fazem uso de dados fornecidos pela astrologia para suas atividades. Ou seja, a imagem da astrologia estava em grande forma.

Mais uma Revista Júpiter, artigos excelentes
Mais recentemente, na REVISTA PIAUÍ (Maio de 2018), e de uma forma mais pessoal, a entrevista com a astróloga Bárbara Abramo apresenta o seguinte depoimento acerca do começo de sua carreira estudando na Escola Júpiter: “Foi durante a primeira gravidez que caiu em suas mãos um livro sobre astrologia. Fascinada, matriculou-se num curso sobre o tema na extinta Escola Júpiter, fundada por ninguém menos que o filósofo Olavo de Carvalho, hoje uma referência da direita brasileira”. A astróloga continua: “Na época ele era filiado ao Partido Comunista”. E completa: “Dizia para lermos Aristóteles e tinha uma visão mais filosófica da astrologia. Aprendi muito com ele.”  (https://piaui.folha.uol.com.br/materia/escrito-nas-estrelas/ )



Filosofia e reflexão na revista 
Independentemente das polêmicas e controversas ideias do filósofo Olavo de Carvalho de hoje em dia, o que nos interessa é sua atividade como astrólogo naqueles anos iniciais de década de 80. A perspectiva é histórica e sob esse aspecto deve ser entendida a presença do filósofo nessa escola de Astrologia. Inegavelmente, ele teve participação ativa na escola e colaborou produzindo textos reflexivos que aparecem nas revistas e na organização do departamento de publicações da escola. 

Outra grande astróloga, Cláudia Lisboa. começou sua carreira na escola quando morou uma breve temporada na capital paulista. Teve assim oportunidade de iniciar suas atividades profissionais fazendo cálculos matemáticos, desafiada pelo amigo Harres a entrar em sala de aula. A astróloga em ENTREVISTA para esta pesquisa (http://historiastrologsp.blogspot.com/2018/09/as-escolas-sao-local-de-aprendizagem-e.html) nos contou detalhes acerca desse começo de sua carreira na Escola Júpiter. Mais um depoimento que comprova o caráter de celeiro que a escola teve.

Logo, metáfora e inspiração 
Como se pode verificar, as atividades dessa escola como as aulas, eventos, publicações e abertura na mídia, justificam o sucesso e a influência exercida na época. Por toda essa movimentação, foi escola que se propôs a divulgar o conhecimento astrológico e formar profissionais. E, com certeza, realizou muito mais sob as auspiciosas promessas e significados da metáfora do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. Conseguiu gerar ações e inspiração para uma Astrologia de qualidade.






(*) O artigo citado de Antônio Carlos Bola Harres está na Enciclopédia de Astrologia, de James R. Lewis ( SP: Makron Gold, 1997) em sua versão brasileira com o título de PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA. Também é encontrado no link (http://espacoastrologico.org/astrologia-no-brasil/  maio 1997).


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