quinta-feira, 26 de março de 2020

INSTITUTO PAULISTA DE ASTROLOGIA: ASTROLOGIA CIENTÍFICA, PROFISSIONALIZAÇÃO E VISÃO FUTURISTA

*Clarissa De Franco

“Sendo o trabalho do Astrólogo equivalente a um sacerdócio,
deverá ter preparação científica, maturidade psicológica e a 
máxima disciplina intelectual e moral, do contrário não terá 
condições de orientar seus semelhantes.”
Código de Ética Profissional de Astrólogxs, 
Seção I, artigo IV, publicado na página online 
da Associação Brasileira de Astrologia.



Foto cedida por Graziella Marraccini
A frase escolhida para abrir este texto carrega a alma do Instituto Paulista de Astrologia. Sob a inspiração de um grande trígono de Ar em seu mapa de nascimento (27/01/1969) entre Sol e Mercúrio em Aquário, Lua nos primeiros graus de Gêmeos, Júpiter e Urano em Libra –, o Instituto Paulista de Astrologia carrega uma tônica benéfica do elemento ar, e traduziu tal característica em uma trajetória longa de produções, estudos e articulações, com forte objetivo de tornar a Astrologia um campo reconhecido como científico, sério e profissional, junto a uma proteção legal que Júpiter em Libra teria trazido para a escola por todos esses anos.

Inicio esse trabalho agradecendo imensamente a contribuição de colegas na reconstrução do legado do Instituto Paulista de Astrologia, em especial a Antonio Facciollo Neto, Cinira Palotta e Graziella Marraccini, que cederam seus tempos, materiais, salivas e memórias para compor esse trabalho. A experiência de conhecer um pouco mais sobre a história do Instituto Paulista e de figuras de profundo impacto na história da Astrologia no Brasil foi muito rica para alguém como eu, que vivi várias facilidades geracionais que interferiram em minha atuação profissional, como a internet e os softwares de Astrologia, e assim ocorre com muitxs astrólogxs na atualidade, que estão distantes da dimensão “heroica” de desenhar um mapa astrológico manualmente ou da dificuldade gigantesca em espalhar conhecimento para pessoas de vários estados e países sem a internet. Agradeço também, à mentora desse projeto, Ana Maria Mendez González, quem me ofereceu a oportunidade de produzir sobre o tema, já que este estudo faz parte da pesquisa sobre História da Astrologia em São Paulo, coordenada por Ana.

O Instituto Paulista de Astrologia foi pioneiro em uma série de atuações no campo astrológico brasileiro. Fundada em 27 de janeiro de 1969 em uma parceria entre Antonio Facciollo Netto e Ivan Moraes e Silva, a escola, além de ter sido a primeira regular e com caráter oficial no país, também deu origem à fundação, em 12 de outubro de 1971, da APA – Associação Paulista de Astrologia, que depois expandiu-se formando a ABA (Associação Brasileira de Astrologia) em 15 de junho de 1977, a primeira associação de astrólogos do Brasil. Além disso, o primeiro Sindicato da categoria no país, SAESP (Sindicato dos Astrólogos do Estado de São Paulo), criado em 09 de dezembro de 1988, também esteve ligado às lideranças do Instituto. 

O pioneirismo não para nesses marcos históricos. Surpreendi-me com os cursos por correspondência em décadas em que a internet ainda não existia: 1970, 1980 e início dos anos 1990. O Instituto Paulista de Astrologia enviava o material de formação pelos correios, propiciando formação de Astrologia por todo o país. Desde aí, nota-se uma caminhada aquariana-jupiteriana, que alia uma visão global, ampla e esperançosa, antecipando passos futuros numa busca de formação de redes e consolidação da área astrológica como um campo profissional sério e que merece reconhecimento. 

Há informações disponíveis online sobre o Instituto (IPA), a Associação (ABA) e o Sindicato (SAESP), que podem ser acessadas por meio das páginas: http://www.astrologiaipa.com.br/ , http://www.astrologia.org.br/Sobre-a-ABA/Historia.

Antonio Facciollo Neto e a Astrologia científica

Imagem cedida por
Antonio Facciollo Neto
A história do Instituto Paulista de Astrologia mescla-se com a história de um de seus fundadores, Antonio Facciollo Neto, que até hoje carrega com orgulho seu legado e afirma em depoimento: “fiz tudo para cumprir uma missão”. A partir de 1973, sua esposa Vera Facciollo tornou-se sócia e também professora da escola. A marca do Instituto é o estudo e a prática da “Astrologia científica”. Segundo Facciollo, a Astrologia científica é baseada em ações e conhecimentos, como “estatística, ciclos de recorrência, observações sistemáticas”. “Precisamos dar seriedade à área”, ele diz. “Temos que provar que os fatos se repetem quando existem tendências astrológicas”. 

Cinira Palotto, atual professora do Instituto, lembra que a “Astrologia científica” veio da França, no século XIX, a partir de pesquisas estatísticas usadas para verificar premissas da Astrologia clássica. Alguns nomes ligados a essa corrente de estudos e pesquisas são Léon Lasson e Paul Choisnard, além do conhecido casal Michel Gauquelin e Françoise Gauquelin, que embora tenham desenvolvido pesquisas inicialmente com o intuito de provar que a Astrologia não tem bases científicas, encontraram alguns resultados que acabaram por confirmar algumas premissas astrológicas, como a maior probabilidade de pessoas com Marte em casa angulares atuarem como esportistas ou militares. Tal estudo ficou conhecido como Efeito Marte. Sua pesquisa, no entanto, foi mais abrangente, e também encontrou resultados estatisticamente significativos que envolviam os planetas Júpiter e Saturno em casas angulares, respectivamente associados no estudo a temperamento expansivo e confiante, típico de políticos e atores, e postura detalhista, reflexiva e analítica, associada a cientistas, filósofos e pensadores.

Graziella Marraccini, que foi uma das alunas do IPA, assim define o tipo de estudo desenvolvido no Instituto Paulista: “é uma astrologia mais racional e menos mística”. Ainda segunda Graziella, nos cursos de Astrologia em geral falta Mecânica Celeste, Astronomia, matérias que ela estudou no Instituto e considera bases fundamentais para a formação na área. Nesse sentido, elogia o Instituto Paulista de Astrologia, como uma escola que promove estrutura e bases sólidas de conhecimento.

Antonio Facciollo Neto,
foto cedida por ele
Facciollo afirmou: “trabalhamos muito para provar que a Astrologia é uma ciência”. E aponta que a internet pode trazer alguns problemas em relação a uma formação de qualidade. Ele diz: “Tem gente esquisotérica que desvia o verdadeiro interessado. Nós, astrólogos sérios, não temos como evitar isso. Mas é como se fosse uma iniciação também o uso da internet. Quem está no caminho certo encontra a saída, mas quem está começando, pode se perder”. 

Mesmo afirmando categoricamente que a Astrologia é uma ciência “que foi perseguida”, na visão de Facciollo, a perspectiva científica da Astrologia não elimina o valor da perspectiva mitológica. “A mitologia dá informações simbólicas que estão em sintonia com o conhecimento atual. Os seres que deixaram a mitologia sabiam do que estavam falando. Falaram de uma maneira cifrada para atingir a multidão, de uma forma novelesca. Mas tem que conhecer tradição chinesa, hindu e muitas tradições além da grega”, ele finaliza a questão, chamando atenção para sempre buscar se aprofundar nos conhecimentos. Já em relação às religiões, Facciollo é mais categórico e ácido: “religião deforma informações. A Bíblia é uma colcha de retalhos muito ruim. Deus não está preocupado com pecados que você comete. Isso a lei de causa e efeito corrige”.


Profissionalização da Astrologia

Além de colocar a Astrologia como um campo sério, científico e passível de verificação, uma das preocupações do Instituto Paulista de Astrologia tem sido a profissionalização da área. A criação da Associação Brasileira de Astrologia e do Sindicato de Astrólogos do Estado de São Paulo relaciona-se diretamente com esse foco. A ABA estabelece critérios para filiação de astrólogos, professores de Astrologia e Cosmoanálise e também para a filiação de escolas de Astrologia. Tais critérios estão descritos na página web e envolvem um esforço público em estabelecer parâmetros para a atuação profissional. Há propostas para currículos e cargas horárias de cursos nos níveis básico, médio e superior, indicação de referências bibliográficas da área, provas de proficiência em Astrologia, publicação do código de ética profissional, entre outras medidas, fundamentais para a consolidação de parâmetros para a atuação astrológica.  

A Associação Brasileira de Astrologia tem orgulho de ter se estabelecido como uma referência na área, e anuncia em sua página: 

“A ABA conquistou o respeito e a confiança não só dos associados como do público em geral, pela seriedade de seu projeto e pelo rigor das exigências para admitir seus filiados. Tornou-se uma verdadeira auto-regulamentação da profissão de astrólogo, e hoje atua como um autêntico “selo ISO-9000”, tanto para profissionais como para escolas de Astrologia. Aqueles que procuram por um profissional competente e ético, costumam perguntar se é filiado à ABA; os que estão à procura de um bom curso de Astrologia perguntam se a escola é reconhecida por ela, no afã de saber se seu aprendizado será idôneo e se seu futuro Diploma de astrólogo virá a ter real valor”.

Nos anos de 1976 e 1977, a diretoria da ABA trabalhou para incluir a profissão de astrólogo no Código Brasileiro de Ocupações, CBO, ligado ao Ministério do Trabalho na época. A Portaria 3654, de 24 de novembro de 1977 colocou oficialmente a Astrologia como profissão reconhecida entre as atuações científicas, técnicas e artísticas, sob o código 1-99. Esse reconhecimento foi fundamental para que profissionais da área passassem a poder declarar Imposto de Renda, e ter direito a benefícios como aposentadoria e INSS.

Em relação às várias tentativas junto ao Congresso Nacional de regulamentação da profissão, Facciollo afirmou, em tom de decepção: “fomos vítimas dos governos desse país atabalhoado. Os governos não cumpriram o que prometeram. Somente a auto-regulação é o que funcionou”.

Facciollo também fez uma crítica à atual participação da categoria nos Sindicatos de Astrologia no país, comparando com a experiência de algumas décadas atrás, quando o SAESP nasceu: “hoje, associações e sindicatos estão às moscas. Tem menos solidariedade. Ficou limitado. As pessoas estão distantes de contribuir com qualquer causa coletiva”.

O Instituto Paulista de Astrologia e outros canais

Vera Facciollo na contracapa do seu livro
Arcanos e Mitos Herméticos. Imagem
cedida por Facciollo.
A busca por reconhecimento para a Astrologia pelo Instituto não envolveu somente a profissionalização. O Instituto Paulista também levou essa luta para os meios de comunicação populares, como jornais, revistas e em vários programas de televisão, de emissoras como a TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Capital de Brasília, TV Tupi. Durante 13 anos, Antonio Facciollo participou do Programa da TV Bandeirantes chamado Xênia e Você, no qual ele, ao lado de sua mulher Vera e colegas astrólogos, construíram um legado de pesquisas astrológicas e previsões que levavam ao público. Ele afirma: “com pesquisas, íamos mudando a visão das pessoas sobre a Astrologia. Registrávamos em cartório nossas previsões para ninguém poder falar nada depois. Acertamos os atentados do Reagen, do Papa, a guerra do Afeganistão...”

A repercussão desses programas certamente não foi pequena. Cinira Palotta, ao contar sobre sua conexão com o Instituto Paulista de Astrologia, disse que admirava desde adolescente as aparições de Facciollo no programa da Xênia e que foi inspirada nesse contexto a se formar e se profissionalizar. Cinira já tinha inspiração de sua avó de mesmo nome (Cinira Palotta) que também foi estudiosa autodidata de Astrologia, tendo participado do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento por alguns meses na década de 1930. Apesar dessa influência familiar, segundo Cinira, o Instituto foi fundamental em sua carreira.

Embora o Instituto Paulista de Astrologia não seja diretamente vinculado à Maçonaria, Antonio Facciollo resgata em seu discurso a importância dos maçons para a Astrologia. Seu pai Mariano Facciollo era maçon e astrólogo e dele herdou essa pertença. “Eles (judeus) sempre deram espaço para dar credibilidade à Astrologia. A Maçonaria é um ponto de apoio, porque traz liberdade de pensamento”. Na página http://www.astrologia.org.br/Sobre-a-ABA/Astrologia-no-Brasil, há uma referência ao papel das Lojas Maçônicas na história da Astrologia: “Muitas sementes de Astrologia foram plantadas no Brasil pelas Lojas Maçônicas, que, desde a vinda da corte para o país, e através de Maçons que viajavam para a França e Inglaterra, se dedicavam a pesquisar a matéria -- parte integrante de seu simbolismo filosófico. A Instituição Maçônica, na sua versão especulativa-filosófica, se originou dos Rosacruzes Ingleses do século XVII, entre eles muitos astrólogos como Robert Fludd, William Lilly, Elias Ashmolle e outros”.

Muitos nomes da Astrologia passaram pela Formação no IPA, tais como: Paulo de Tarso, Rosa de Cunha, Antoine Daoud Filo, Rosa Lodi Barcelos, Antonio Carlos Fini, Amauri Magagna, Marisilda Magagna, Waldir Bonadei Fücher, Wilma Bonadei Fücher, Hélio Amorim, Nazareno Micheletti, Chafy Miguel Bittar, Joana Zito Losada, Maria José Faria de Paula, Francisco Arthur Canel, Antonio Federighi, Gersio Passadore, Juan Alfred Cesar Müller, Graziella Marraccini, Cinira Palotta, entre muitos outros.

Graziella Marraccini destacou em seu depoimento alguns marcos que a ligaram ao desenvolvimento do Instituto, entre eles, a criação do primeiro Software Pegasus por Paulo de Tarso. No Instituto Paulista de Astrologia, ela aprendeu a desenhar os mapas manualmente, mas viveu esse momento de transição, em que a tecnologia foi modificando a atuação profissional dos astrólogos.

Os eventos também foram um ponto de sucesso na trajetória do Instituto. Simpósios, Congressos, Colóquios de Astrologia foram organizados pelas lideranças da escola. Facciollo conta que “lotavam o Teatro Hilton”. O primeiro Colóquio Brasileiro de Astrologia foi realizado pela ABA nos dias 14, 15 e 16 de abril de 1978. Desde então, A ABA vem realizando eventos anuais, que normalmente ocorrem nos hotéis: Hilton, Maksoud Plaza e Nikkey Palace em São Paulo. 

Hoje, o Instituto Paulista de Astrologia promove celebrações que envolvem as datas de início dos Equinócios e Solstícios, o Ano Novo Astrológico, além de reuniões ligadas às lunações, além de muitas outras atividades que atuam para manter viva a perspectiva da Astrologia científica. Cinira, que atualmente compõe o quadro de professores, contou que está desenvolvendo uma pesquisa sobre um tema há anos e ainda não sente que seus dados estejam prontos, demonstrando ter aprendido a importante lição que o Instituto deixa de zelar pelos detalhes e pela seriedade do trabalho.

Também merecem destaque na história do Instituto, a diretora, professora e sócia Vera Facciollo, que desde 1972 vem organizando vários Congressos de Astrologia e Ciências Herméticas e atuando na direção da ABA e do SAESP, além de ser autora do livro Arcanos e Mitos Herméticos, e o professor Renan Leme que é também autor do novo Programa online de Astrologia voltado a pesquisas astrológicas pela ABA e IPA.

Sobre a herança que o Instituto Paulista de Astrologia deixa, Facciollo é tranquilo em reconhecer que cumpriu uma missão de comprovar a seriedade e a cientificidade da Astrologia. “Nunca perseguimos ninguém e buscamos ajudar a todos, mas tem gente que fica com raiva quando a gente mostra o certo”. 

Imagem do Livro de Vera Facciollo,
cedida por Antonio Facciollo Neto.
A importância do Instituto Paulista de Astrologia na história da Astrologia do Brasil é inegável, imensa, já que da escola se derivaram outros espaços que contribuíram para o exercício profissional de astrólogos, espaços que propiciaram uma estrutura e uma legitimidade para área. Quanto maior o reconhecimento público oficial da atuação astrológica, menos explicações, nós, astrólogos, teremos que dar diante de outros campos do saber, como a ciência, já que esse trabalho do IPA envolve a construção de um repertório que justifica em si mesmas as práticas e o campo conceitual da área astrológica, consolidando saber e atuação. Eis o rico legado do Instituto Paulista de Astrologia: legitimidade para a Astrologia, diante de si mesma e de seus pares, diante do público, diante de outros campos do saber, diante da história do conhecimento. 


Esse estudo faz parte da Pesquisa História da Astrologia em São Paulo, coordenada por Ana Maria Mendez Gonzalez. Material disponível em http://historiastrologsp.blogspot.com/


*Clarissa De Franco é psicóloga, astróloga formada pela Escola Gaia, taróloga, psicóloga arquetípica e analista de sonhos, doutora em Ciência das Religiões, com Pós-Doutorado em Estudos de Gênero.  Trabalha no campo de Direitos Humanos na Universidade federal do ABC. Como terapeuta e pesquisadora, trabalha na interface entre saberes tradicionais e científicos, articulando conhecimentos entre gênero, religião, psicologia, astrologia, mitos e tarô. É especialista do Personare. 

Um comentário:

  1. “Nunca perseguimos ninguém e buscamos ajudar a todos, mas tem gente que fica com raiva quando a gente mostra o certo”. Aconteceu isto com Jesus, o Cristo, e com muitos outras pessoas que faziam o certo, e não mudou nada, principalmente neste mundo que não têm nada de moderno, mas é desvairado.

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